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terça-feira, setembro 10, 2013

Solfieri - Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo
Solfieri

...Yet one kiss on your pale clay
And those lips once so warm - my heart! My heart.
Byron, Cain..


Sabeis-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia; no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença
Era em Roma. Uma noite, a lua ia bela como vai ela no verão por aquele céu morno. O fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de ***. As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se faziam ermas e a lua de sonolenta, se escondia no leito das nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. - A face daquela mulher era como de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.
Eu me encostei à aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento à noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.
Depois, o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a.
A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu e a chuva caía às gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos do órfão.
Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim, ela parou; estávamos num campo.
Aqui, ali, além, eram cruzes que se erguiam entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.
Não sei se adormeci: sei, apenas, que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo, a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.
O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...
Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres, nada me saciava; no sono da saciedade me vinha aquela visão...
Uma noite e após uma orgia, eu deixara dormida no leito a bela condessa Barbora. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até à última gota do vinho do deleite...
Quando dei acordo de mim, estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o. Era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal-apertados... Era uma defunta! E aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida... Era o anjo do cemitério! Cerrei as portas da igreja que, ignoro porque, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo...
Sabeis a história de Maria Stuart degolada e do algoz, "do cadáver sem cabeça e do homem sem coração", como a conta Brantôme? - Foi uma idéia singular, a que eu tive. Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim. Rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela, como o noivo os despe à noiva. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso - cevei-lhe em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito, abriu os olhos empanados. Luz sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa, apertou-me em seus braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados... Não era já a morte: era um desmaio. No aperto daquele abraço havia, contudo, alguma coisa de horrível. O leito de lajes, onde eu passara uma hora de embriaguez, me resfriava. Pude, a custo, soltar-me naquele aperto do peito dela... Nesse instante, ela acordou...
Nunca ouvistes falar de catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!
A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar, desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário, como uma criança. Ao aproximar-me da porta, topei num corpo. Abaixei-me e olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja, que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta...
Saí. Ao passar a praça encontrei uma patrulha.
- Que levas aí?
A noite era muito alta: talvez me cressem um ladrão.
- É minha mulher, que vai desmaiada...
- Uma mulher? Mas, essa roupa branca e longa? Serás, acaso, roubador de cadáveres?
Um guarda aproximou-se. Tocou-lhe a fronte: era fria.
- É uma defunta
Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno. - Era a vida, ainda.
- Vede - disse eu.
O guarda chegou-lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo... o punhal já estava nu em minhas mãos frias...
- Boa-noite, moço. Podes seguir - disse ele.
Caminhei. - Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço...
Quando eu passei a porta, ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo...
Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos, meus companheiros, que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse.
Fechei a moça no meu quarto e abri.
Meia hora depois eu os deixava na sala, bebendo ainda. A turvação da embriaguez fez que não notassem a minha ausência.
Quando entrei no quarto da moça, vi-a erguida. Ria de um rir convulso, como a insânia, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor ouvi-la.
Dois dias e duas noites levou ela de febre, assim.
Não houve sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.
À noite, saí. Fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera e paguei-lhe uma estátua dessa virgem.
Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto e, com as mãos, cavei aí um túmulo. Tomei-a, então, pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito, muda e fria, beijei-a e cobri-a, adormecida no sono eterno, com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele,
Um ano, - noite a noite - dormi sobre as lajes que a cobriam... Um dia, o estatuário me trouxe a sua obra. Paguei-lha e paguei o segredo...
- Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te disse que era uma virgem que dormia?
- E quem era essa mulher, Solfieri?
- Quem era? Seu nome?
- Quem se importa com uma palavra quando sente
que o vinho queima assaz os lábios? Quem pergunta o nome da prostituta com quem dormiu e sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?
Solfieri encheu uma taça e bebeu-a. Ia erguer-se da mesa, quando um dos convivas tomou-o pelo braço.
- Solfieri, não é um conto, isso tudo?
- Pelo inferno, que não! Por meu pai, que era conde e bandido! Por minha mãe que era a bela Messalina das ruas! Pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vo-lo juro! - guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Ei-la!
Abriu a camisa e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

- Vedes-la? Murcha e seca, como o crânio dela.









bjos 

24 de Setembro de 1983

“É minha  vez!” – penso assim que sai...        “Vai !, Vai !, Vai !.” – diz alguém.           Aluz está apagada, ainda. Más há uma pequena fresta de luz no chão.  “Oque será isto, ela morreu?” – pensa alguém.  “Não!” – respondo.  A musica começa e eu também... =)
Mais um espetáculo, mais um dia!  Dizem que a dança é a linguagem oculta da alma... e é!  É com ela que eu descarrego toda minha raiva, todo meu ódio, todo... Tudo oque sinto é expressado em minha dança. Más existe uma coisa que não consigo –não sozinha- ... Uma coisa que talvez eu desconheça, um coisa que todos dizem ser mais forte que tudo, uma coisa chamada  #AMOR...    (ou coisa do tipo!)
#AMOR  !  ~>  Eu já vi uma vez...        Era um casal de Sábios*  , sentados no sofá de sua casa assistindo à um filme o.O     ... quando riam olhavam um para o outro.  Ela parecia tão a vontade com ele, tão segura, tão amada, tão jovem que mais parecia uma criança com os olhos brilhando...   Ele segurava sua mão e de vez enquanto a beijava.
Era lindo!
...
Então, nunca mais os vi.  Voltei outras vezes àquela janela, más... nunca era a mesma.  E seguia. Sigo até hoje tentando ver/encontrar aquela magia  outra vez...!
















*SÁBIOS – Idosos,  os mais velhos,   senhores(as).

segunda-feira, setembro 02, 2013

La Cumparsita - Mujeres Tango Festival -

Oque é Dança Moderna? o.O

Dança Moderna, emergida dos últimos anos do século XIX e afirmada nos primeiros anos do século XX, tem raízes e intenções bem distintas. Os bailarinos dançam descalços, trabalham contrações, torções, desencaixe etc, e seus movimentos são mais livres, embora ainda respeitem uma técnica organizada. Recusa o apoio nas pontas dos pés como um catalizador dos movimentos e coloca o eixo de seu trabalho no tronco, no contato, na queda, na improvisação, na respiração, no movimento da coluna e das articulações, em diferentes graus de tensão/relaxamento muscular, e também o trabalho no chão.
Isadora Duncan

“A intensidade do sentimento comanda a intensidade do gesto”. Essa citação da obra de Bourcier (1987, p. 244) resume a intencionalidade da dança moderna. Derivada do balé, é por meio desse mote que a dança moderna acaba por se diferenciar da dança clássica. Ora, se por um lado o balé aprecia a leveza e a suavidade dos movimentos; a dança moderna, desde sua origem, buscava a manifestação extrema dos sentimentos através dos movimentos corporais.
A origem dessa dança se deu, em meados do século XIX, por meio de estudos do francês François Delsarte, que induziu relações entre a emoção interior, a voz e o gesto. Embora fundamental, sua contribuição para a dança moderna é pouco reconhecida. No entanto, foi por meio de sua aluna Geneviève Stebbins, que aplicava seu método em suas aulas de dança, que Isadora Duncan tornou-se um ícone mundial da dança moderna.
Duncan não compreendia o motivo pelo qual a técnica da dança clássica era baseada na contenção da expressividade. Sua ideia era a de que o corpo seria apenas uma via pela qual o sentimento deveria ser apresentado. Foi então, por meio de Stebbins, que Duncan recriou o modo de dançar, preferindo, inclusive, pés descalços em oposição à sapatilha de ponta. É provável que as preferências profissionais de Duncan tenham sido, de alguma forma, expressão de sua vida sentimentalmente pesada. Muitas mortes ocorreram durante sua trajetória: seus dois filhos morreram afogados; seu marido, que não conseguiu o visto para acompanhá-la aos Estados Unidos, tornou-se alcoólatra e se suicidou; e ela mesma morreu estrangulada por uma echarpe que enroscara em uma das rodas de seu carro. Não há dúvida de que esses sentimentos fortes a influenciavam de alguma forma.
Martha Graham é outra dançarina marcante no campo da dança moderna. Começou sua aproximação com a dança tardiamente, como era comum nos Estados Unidos. Ao contrário de Isadora Duncan, ela entendeu que a dança é o meio pelo qual o homem pode pensar os problemas sociais e os grandes questionamentos da humanidade. A técnica que desenvolveu da dança implica em trabalhar emocionalmente, corporalmente e espiritualmente os bailarinos.
Atualmente, a dança moderna divide espaço com o balé, inclusive, entre as companhias de dança mais acadêmicas.

Isadora Duncan

Lauriane'Reis

Pensamento do dia 02/09/2013

Segundo Discépolo*,
o tango é um pensamento triste que se pode dançar“.

TANGO e seus segredos.





"TANGO" 
Um ritmo q mescla o drama, a paixão, a sexualidade, a agressividade, é sempre e totalmente triste. 
Como dança é “duro”, masculino, sem meneios femininos, a mulher é sempre submissa. 
O ritmo é sincopado, tem um compasso binário. A síncope é de uma nota tocada no tempo fraco que se prolonga até um tempo forte, o que movimenta a música e desloca acentuação do ritmo.

Há diferentes tendências em seu estilo. O tango-canção, tango canyengue, o tango milonga, tango romanzae o tango jazz. Hoje em dia é possível até encontrar estilos como tango rock e electrotango, ou tango eletrônico (o lectrotango pode ser conferido nos trabalhos dos grupos Bajofondo e Gotan Project, como:SANTA MARIA (DEL BUEN AYRE).

ONDE SURGIU? 


O tango surgiu nos subúrbios de Buenos Aires em meados do século 19. Na beira do rio Riachuelo, nos bares, nos cortiços do bairro sul, nos prostíbulos, estavam os soldados de folga, trabalhadores dos abates, cocheiros, artesãos, marinheiros e peões, em geral homens sozinhos em busca de companhia e diversão. Nestes salões, tocavam-se valsas, milongas, mazurcas, habaneras, polcas e esboços do futuro “tango criollo”.
O tango que se dançava já em 1880, composto por Villoldo ou Mendizabal, entretanto, não era o mesmo “tango argentino” que se conhece hoje, de astros como Carlos Gardel ou Astor Piazzolla. A dança sofreu algumas mudanças com o passar do tempo, mas permaneceu a cadência entre os movimentos suaves e bruscos.
Pouco a pouco, a dança foi conquistando espaço nos salões. Até a moda adaptou-se, pois as damas precisavam de liberdade de movimentos. Poiret, por exemplo, criou o “tango look”, com vestidos de ombros de fora, acinturados, decotados, que elas usavam sobre calças justas até o tornozelo, ou então saias justas de “chiffon”, com aberturas generosas. Nas cabeças, boinas em forma de turbante, com penas.
Era a época das revoluções cultural e industrial na Europa, em que se buscava mais independência e mudanças no estilo.
Na década de 20, compositores famosos como Igor Stravinsky, Paul Hindemith e Ernst Krenek acrescentaram o tango às suas composições e assim abriram espaço para o gênero nas salas de concerto e nas óperas.


Em 1977, a prefeitura de Buenos Aires instituiu o Dia do Tango, que logo se tornou um evento nacional e agora faz parte do calendário cultural de diversos países.
A data foi escolhida para homenagear Carlos Gardel e o grande músico e compositor Julio De Caro, ambos nascidos neste dia.  DIA 11 de DEZEMBRO - DIA DO TANGO






Lauriane'Reis